06 fevereiro 2007

Enfim...


O Centro Paroquial de Nossa Senhora da Anunciada, em Setúbal, fez distribuir por quatro infantários que dirige mais de 850 cartas que foram colocadas nas mochilas das crianças, apelando ao voto contra o aborto.

No mesmo envelope, seguia um outro documento que chocou também alguns pais, do qual constava um pretenso feto abortado.

Em declarações à TSF, o padre Miguel Alves, da direcção destes jardins de infância, disse não entender o motivo da polémica.

«Não me parece haver motivo para indignação, acho que deve ser má vontade. Trata-se de uma carta dirigida aos pais, não existindo nada de extraordinário», revelou.

Na carta, divulgada esta quinta-feira pelo jornal «Diário de Notícias», pode ler-se: «Mãe, como foste capaz de me matar?... Como consentiste que me cortassem aos bocados e me atirassem para um balde?...»

«Querida Mamã. Apesar de tu não teres querido que eu nascesse, não posso deixar de te chamar Mamã. Escrevo-te do mundo do além, para te dizer que estava muito feliz quando comecei a viver no teu seio. Eu desejava nascer, conhecer-te. E pensava que um dia seria uma criança muito alegre»

«Mas tu não pensavas como eu, não é verdade Mamã? E um dia, quando estava tão feliz a brincar no mais íntimo das tuas entranhas, senti algo muito estranho, que não saberia como explicar: algo que me fez estremecer. Senti que me tiravam a vida. Uma faca surpreendeu-me quando eu brincava feliz e quando só desejava nascer para te amar», acrescenta a missiva, que a mãe de uma criança classifica como «terrorismo, puro e duro».

Questionado sobre o conteúdo destes excertos, o padre respondeu de forma lacónica, reiterando que a carta foi dirigida aos pais, pelo que, no seu entender, nada há de «anormal».

Num e-mail enviado à TSF, a mãe de uma das crianças disse ter ficado «chocada, indignada e revoltada» com o conteúdo desta carta.

Por seu lado, a educadora Ana Isabel Ricardo, do Infantário o Aquário, revelou que se limitou a colocar o envelope na mochila das crianças a pedido da direcção do infantário.

A directora do Centro Distrital de Segurança Social de Setúbal (CDSS) considerou hoje «ilegítima» a utilização de crianças dos infantários do Centro Paroquial da Anunciada para distribuição de propaganda contra a despenalização do aborto no referendo de Fevereiro.

«Não é legítima a utilização de crianças como veículo de propaganda e, nessa perspectiva, não me parece que tenha sido a melhor forma de fazer propaganda, independentemente das vontades e perspectivas de cada um», disse à Lusa a responsável, Fátima Lopes.



http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=769257&div_id=291

http://pt.indymedia.org/ler.php?numero=114228&cidade=1

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